sábado, 7 de novembro de 2009

VENDAVAL



Cavaleiros com bandeiras
Sobre as nuvens fazem guerra –

(Cortinas de ferro em vendaval,

Poeira de sangue no lençol).



Corpos mortos pelos sonhos

Se misturam com as estrelas:

Crianças brincando no saguão,

Com os braços erguidos de He-Man!



Cavaleiro de histórias e de contos...
Fidalgo,

transforma em um herói

Que morto se mistura com os reais.



O SONO DAS ALMAS



Todos mortalizados pela noite
Camuflam no suícidio dos corpos.


Nenhum espírito

desampara as carnes


Sai solitário, senta-se

no madrugal e embriaga-se!


Nenhuma alma

Está solta na estrada

Seguindo as setas,

Sem pernas...


Sem olhos!


Enlouqueço no meu Karma!


Separo meus lados:

Corpo esquálido

Esquálida alma.


Ele imobilizado

Atenta-se ao fluido da irmã


Solitária


Prestes a adormecer no espaço...


Enlouqueço no meu Karma!


Tomo o corpo nos

braços da minha própria alma


E adormeço!




Élsio Américo Soares

INSÔNIA





Cinzas dormidas no

patamar noturno das brisas
esmaga-se ao passo felino,
calmo tal luar febril das chamas.


Esvoaça pela noite garrida
das nuas vidas da insônia,
d’onde o mel ultraja a ferida
no vértice dos ventos
e no suor esquálido das chuvas.


Suga o amanhecer

da minha morte bendita
e faze de mim

um cinzeiro mortal
de tuas cinzas,
que ao calar o refúgio
se faz fechar o bocejo

irônico da vida.


Dorme e sonha junto às ninfas,
Ó cigarro curador de minha insônia!


Mata-me ao desejo
nesta cama de esfumaço...


Mata-me, ó insônia,
até que eu mereça dormir
na sombra vil do cansaço!...




Élsio Soares


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

IMAGINÁRIO FIM





Meu sangue coagula...


Vou me perdendo


na imensidão do além...




Uma voz


vem beijar-me os tímpanos


E o escuro é a tez


do último momento...




Há ainda uma estrela


perdida no meu medo...




Há ainda uma carícia,


derradeira saudade


de quem diz amém...




Há em mim o fervor


para abrilhantar a partida




neste imaginário...




Imaginário fim...







Élsio Soares

GARÇAS NEGRAS



Quer voar
Voar no céu e no mar

Aprender

O segredo das asas

E partir...


Ah...

Garças negras são raras

São gaivotas

Araras

Solitários meninos



Quer amar

Amar um outro e um olhar

Viver

Os segredos da vida

E morrer...


Ah..

Garças negras são raras

São gaivotas

Araras

Solitárias meninas


Quer partir...

Partir as asas dos Homens...


Dos Homens negros da África


Quer morrer...


Morrer a vida dos Pássaros...

Dos Pássaros negros da África


Ah...

Garças negras são raras

São gaivotas

Araras


São as únicas que cantam

Nas trincheiras da África



Élsio Soares

RESTOS...



tens dó...


das minhas lágrimas sobrepostas
á tantas feridas...
e tantas traças.


tens dó...


dos meus restos incompostos...
á tantos egos - recolhidos...
ausentes...
e perdidos.


tens dó...


enfim...
desta dor,
há tanto doida,
que não faz parte de nehum...
nenhum outro amor!!!


tens dó...




elsio soares

DOLOR



É uma certa dor

Moribunda
Que entrelaça o sorriso
E me traz a tristeza
Fazendo esquecer


P

A
L
A
V
R

A

S


E ofuscando
A outra parte minha que gera...


Oh!

é uma certa dor
Que me degenera
E faz meus olhos sentirem frio
Como as cinzas d’outro dia...


Oh!

é apenas uma dor
Leve como a morte
De quem velho


Velho tanto...

Tanto...



É apenas uma velha dor


De um certo...

Tão incerto amor!




Élsio Soares

DESAMPARO




Manhãs desérticas,

tardes féticas

que emprobecidas

navegam no abismo

daquela menina

que se entrega à cola.


E a cidade quase toda nua

espera a noite

se perder na vida;

e pelas ruas a vadiar,


as folhas

secam na frieza daquela pessoa

envolta em um hálito fúnebre,

se perdendo como sombra:


Sem comer...

Sem beber...


Sem sequer

ser amparada na terra

que apenas há de comê-la




Élsio Soares

ROSAS BRANCAS




Agora,

No jazigo onde dorme

O mármore fúnebre do outono

Empalidece-me o olhar esquálido

E o tinir dos sinos murmura lânguido,

Ouço-o dos labirintos inatingíveis do eterno;


E cabisbaixo

Choro as verdes lágrimas da esperança,

Gota por gota

Jorra ao chão da liberdade...



Agora,

Também por todas outras lápides

Descansam tantos outros bravos

(Povos de toda Humanidade)...

Que criaram filosofias

E nelas vivem hoje a Eternidade!



Agora,

Vive no descanso pleno,

Pois da semente deixada

Faremos dela rosas

E as chamaremos:


(Rosas Brancas)!!...



In Memorian
Tancredo Neves



Élsio Soares

CEGUEIRA AZUL



Como é difícil
ficar cego,

procurar nos olhos

o brilho do abismo

e fazê-lo crescer

além do penhasco do ser...


Como é difícil
ficar cego,

perdido entre dumas

desérticas,

ouvindo os uivos

no anoitecer

de um pássaro-preto
que voa

e

revoa


além dos meus olhos

tão azuis e sem cor!!...



Élsio Soares

ROSA CÁLIDA



Dirás ao túmulo

Que teu segredo é imenso,

Que teu aroma emana da alma

E aos confins do corpo silencia calma.

Despertas do silêncio

Que de longe falas

E digas a minha voz que se cala:

Que Eu todo significo um espaço,

Sem limites e sem traços...
Assim como a ti


Que agora exala...
Amanhã num túmulo se desfala...







Élsio Soares